Instituição parceria da Inicie trabalha com crianças surdas em projeto educacional desde 1977
No Dia Nacional da Educação Inclusiva, é fundamental destacar iniciativas que realmente fazem a diferença na construção de uma sociedade mais justa e acessível. O Centro de Educação para Surdos Rio Branco (CES), mantido pela Fundação de Rotarianos de São Paulo, é um exemplo vivo de como a educação pode impactar vidas. Desde 1977, a instituição vem transformando a educação de crianças surdas, promovendo uma abordagem bilíngue que respeita e potencializa as especificidades desses alunos.
A jornada do CES: da oralização à educação bilíngue
Na década de 70, o foco do CES era a oralização dos alunos surdos, acreditando que a capacidade de falar garantiria sua inclusão na sociedade. Com o tempo, percebeu-se que muitos alunos não conseguiam desenvolver a fala e que o verdadeiro objetivo da escola deveria ser o mesmo de qualquer outra: proporcionar aos alunos surdos o acesso ao conhecimento. Foi assim que, no início da década de 90, a Língua Brasileira de Sinais (Libras) passou a ser utilizada em sala de aula.
A grande virada veio no final da década de 90, com a chegada de educadores surdos ao CES e a adoção da proposta bilíngue. Essa abordagem reconhece a Libras – Língua Brasileira de Sinais como a primeira língua dos alunos surdos, enquanto o português escrito é aprendido como segunda língua. Dessa forma, o CES garante que seus estudantes tenham pleno acesso ao aprendizado, sem barreiras comunicacionais que dificultem sua evolução acadêmica.
“Diferentemente do que muitos imaginam, uma escola voltada exclusivamente para alunos surdos não deixa de ser inclusiva. A inclusão, nesse contexto, está em garantir que os estudantes tenham um ambiente que favoreça seu desenvolvimento pleno. Além disso, no CES há a inclusão de surdos com outras comorbidades”, disse Sabine Antonialli Arena Vergamini , diretora de unidade socioeducacional do CES.
Todas as aulas no CES são ministradas em Libras, e a equipe de educadores é composta,, por profissionais surdos e ouvintes usuários fluentes da Libras . Isso cria um espaço de pertencimento e referência, onde os alunos podem enxergar modelos Surdos de sucesso que compartilham sua realidade.
Além disso, o CES também atende crianças com comorbidades associadas, reforçando a ideia de que a inclusão vai além do compartilhamento de espaços físicos. O objetivo é preparar os alunos para que, ao ingressarem em classes de maioria ouvinte r a partir do 6º ano, acompanhados por intérpretes de Libras, sintam-se confiantes e capazes.
O protagonismo do aluno surdo
Um dos pilares do CES é a valorização do protagonismo dos alunos. A instituição promove atividades onde os estudantes estão sempre à frente, mostrando suas habilidades e potencialidades. Ter professores e lideranças surdas na equipe também é essencial para fortalecer a identidade surda e encorajar os alunos a sonhar alto.
Nas redes sociais do CES, é possível ver essa filosofia em ação: os alunos são sempre destaque, mostrando que são capazes de conquistar qualquer espaço que desejarem.
Os desafios e impactos da educação Inclusiva
“Trabalhar com educação no Brasil já é um desafio por si só, e quando se trata de minorias, a luta é ainda maior. Felizmente, o reconhecimento da Libras como meio de comunicação das comunidades surdas foi um grande avanço”, comentou Sabine. Isso permitiu que a educação bilíngue ganhasse força e garantisse que os surdos pudessem se desenvolver plenamente como cidadãos conscientes de seus direitos e deveres
Muitos alunos foram os primeiros em suas famílias a ingressar no ensino superior, e isso só foi possível porque tiveram acesso a uma educação que respeitou suas particularidades e potencializou suas capacidades.
O trabalho do CES ensina que a inclusão não é apenas colocar alunos diferentes no mesmo espaço físico. Incluir é garantir que todos tenham acesso à aprendizagem de forma plena e significativa.
“A gente desenvolve esse trabalho de mostrar o surdo paro mundo e o mundo para o surdo. É um caminho de duas mãos. De mostrar que o surdo é capaz de desenvolver diferentes papéis. Então, dar a visibilidade para o surdo e para comunidade surda é o grande diferencial que a gente tem de impactar a sociedade”, finalizou Sabine.
Neste Dia Nacional da Educação Inclusiva, que possamos refletir sobre como podemos contribuir para um mundo onde todos tenham as mesmas oportunidades de aprender e crescer. A educação inclusiva não é um favor, é um direito.