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Ensino híbrido e desigualdade. Qual o caminho?

Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad C) lançada em 2021, 82,7% dos domicílios no país já possuem acesso à internet. Esse é um cenário que favorece a ampla adesão ao ensino híbrido no Brasil, porém é preciso também pensar em práticas de inclusão digital para quem não faz parte dessa estatística.

 

Informações da mesma pesquisa indicam que esses usuários com acesso à internet correspondem a 39,8 milhões de pessoas com idade acima de 10 anos. Ou seja, em números absolutos de pessoas, 21,7% da população nesta faixa etária não possui acesso à internet por conta própria. São casos em que, por exemplo, uma pessoa acessa a internet no trabalho, na casa de um amigo ou parente ou então em uma lan house etc. O ponto é não ter acesso próprio e constante.

 

Você deve estar compreendendo aonde queremos chegar com essa abordagem, certo? Bom, o ensino híbrido é, em essência, a complementação de atividades remotas e presenciais.

 

Antes da pandemia, o conceito era definido como uma metodologia que agregava atividades físicas e remotas, todas realizadas dentro do espaço da sala de aula. Após este episódio e com o crescimento do ensino remoto, a metodologia de ensino híbrido passou a contemplar as aulas online e atividades propostas pelo professor utilizando diversas ferramentas digitais.

 

Para desfrutar dos benefícios das aulas online e atividades remotas, é fundamental que as crianças e jovens tenham acesso à internet e outras tecnologias, como o próprio dispositivo eletrônico para acompanhar as aulas e acessar os materiais.

 

Neste artigo você vai acompanhar um pouco mais sobre as discussões existentes a respeito de como viabilizar o ensino híbrido no Brasil mesmo diante dessa desigualdade. Continue a leitura!

 

Panorama do ensino híbrido no Brasil

 

A metodologia conhecida no Brasil como ensino híbrido surgiu inicialmente nos Estados Unidos, na década de 1960. A proposta principal por trás deste formato educacional, que mescla o presencial com o online, é conduzir o aluno a um maior protagonismo e participação ativa em sua jornada de aprendizagem.

 

No Brasil, essa ideia começou a ter maior adesão em 2014, a partir de alguns estudos experimentais realizados pelo Instituto Península e pela Fundação Lemann. O objetivo foi provocar uma reflexão nos professores envolvidos sobre o processo de desenvolvimento de seus alunos e maneiras de potencializá-lo.

 

Até a ocorrência da pandemia de Covid-19, que funcionou como um ponto de mudança na visão prática do ensino híbrido, esta metodologia se apresentava de forma diferente. As instituições de ensino que já adotavam práticas híbridas estavam em fase de capacitação de professores para tal, e de estudo sobre ferramentas e modelos a serem aplicados.

 

Durante a pandemia, surgiu a necessidade de migrar totalmente, em diversos casos, o ensino presencial para o formato remoto em poucos dias ou semanas. A falta de planejamento para esta migração provocou uma série de desalinhamentos a respeito das metodologias para o ensino remoto, e levantou questionamentos sobre sua funcionalidade.

 

Além disso, temos no país um cenário de desigualdade social que eleva os questionamentos e as barreiras de adesão. O fato de as crianças e jovens não irem para a escola, muitas vezes pode levar seus familiares a acreditar que aquela educação não funciona. Muito disso está associado ao descrédito atribuído ao ensino híbrido e ao remoto devido ao mal planejamento.

 

Temos cada vez mais adeptos do ensino híbrido no cenário brasileiro, e isso é uma grande vitória para a educação do país. O que precisamos agora é olhar para as desigualdades que ainda persistem e encontrar caminhos para viabilizar o acesso a todos em nossas instituições de ensino.

 

Impactos da desigualdade

 

Antes de todo esse debate chegar às instituições de ensino, no entanto, é preciso pensar na melhoria da equidade e dos indicadores de qualidade da educação.

 

Há diversos obstáculos sociais e de inclusão digital no caminho para a plena adesão ao ensino híbrido no Brasil. As dificuldades vão desde as condições financeiras da família, passando pela qualidade da internet que se tem em casa (quando tem) para acompanhar as aulas, até a criação de uma rotina de estudos fora da escola.

 

Se dermos um passo à frente e olharmos de forma otimista para aqueles que possuem acesso à internet, temos o desafio do aprendizado sobre o uso das tecnologias. São exemplos as ferramentas para edição de texto, apresentação de slides, armazenamento em nuvem, calendário digital etc.

 

Muitas dessas coisas parecem simples no dia a dia de quem está habituado. No entanto, para quem está no primeiro contato, exigem toda uma curva de aprendizado e podem provocar sentimentos de inadequação e frustração em caso de dificuldades.

 

Veja a seguir como a sua instituição de ensino pode ajudar a contornar este desafio e contribuir para viabilizar caminhos para o ensino híbrido.

 

Que caminhos existem para viabilizar o ensino híbrido

 

Para além do preparo inerente à adoção do ensino híbrido nas escolas, é preciso também aperfeiçoar as práticas pedagógicas como um todo. As ações que a escola irá desenhar para colocar em prática este combate à desigualdade deverão estar pautadas nessas diretrizes de base. É importante ressaltar que ter uma plataforma digital, computadores e acesso à internet não significa que o ensino híbrido está implantado.

 

Algumas possibilidades de facilitar o acesso às atividades remotas para crianças e jovens que possuem baixa qualidade de internet, ou não possuem acesso, envolvem a flexibilização. Isso significa que é preciso diversificar as atividades para atender as necessidades de grupos de alunos com ritmos de aprendizado diferentes, personalizado por meio das ferramentas digitais, a partir da implementação de um currículo mais flexível.

 

Assim, possibilita-se que as crianças e jovens com desafios de acesso à internet se organizem com seus familiares para buscar consumir essas aulas posteriormente.

 

Outro caminho é a disponibilização dos materiais digitais no formato impresso, para que mesmo os alunos sem internet consigam acompanhar o conteúdo apresentado. Dessa forma, a contribuição com a entrega de trabalhos e a base de estudos para as provas, por exemplo, não se perdem por conta da internet.

 

Combater a desigualdade social no Brasil através das práticas de educação é um dos principais caminhos para reverter alguns dos cenários que vivenciamos. No caso do ensino híbrido, é possível disponibilizar uma maior flexibilidade em algumas rotinas. Isso possibilita que as pessoas sem ou com pouco acesso a tecnologias também acompanhem as atividades.