Já há alguns anos, a compreensão sobre a importância da atenção à saúde física e mental dos estudantes vem sendo colocada em pauta nas instituições de ensino. Com a implementação prática da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a competência de autoconhecimento e autocuidado veio para reforçar esse direcionamento.
Cuidar da saúde física é fundamental por diversos motivos já amplamente explorados há anos na nossa sociedade. A manutenção de um bom funcionamento do organismo, a prevenção de doenças e a melhora da qualidade de vida estão entre os principais benefícios.
Para isso, praticamos esportes, atividades físicas, nos movimentamos, optamos por usar as escadas em vez dos elevadores, entre tantas outras escolhas diárias. E com a nossa saúde mental e de nossos alunos, estamos tomando o mesmo cuidado? Estamos treinando essa musculatura emocional e psicológica, que também precisa ser fortalecida para vivermos na plenitude?
É sobre como levar isso cada vez mais para o dia a dia da sua instituição de ensino que você irá ler neste artigo. Vamos trazer uma explicação mais ampla sobre o tema, mostrar como isso está previsto na BNCC e deixar algumas dicas de como aplicar junto aos seus alunos. Confira!
O que diz a BNCC sobre autoconhecimento e autocuidado
Agora é o momento de compreender como a BNCC se manifesta em relação às práticas de autoconhecimento e autocuidado na escola.
A BNCC está dividida em 10 competências macro que dizem respeito a habilidades que devem ser desenvolvidas pelos estudantes ao longo de sua fase escolar. A competência de número 8 é a de Autoconhecimento e Autocuidado, que se refere a:
“Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo- se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas.”
Assim, entende-se que é imperativa a necessidade de os estudantes serem orientados, via instituições de ensino, a aprenderem como cuidar da sua saúde física emocional em busca de equilíbrio. O objetivo é que as crianças e jovens aprendam mais sobre si mesmos desde a base, para que tenham maior domínio sobre si próprios, suas emoções e os mecanismos que utilizam para lidar com elas.
Para alcançar o que está definido na oitava competência da BNCC, a diretriz elenca seis pontos de desenvolvimento que devem ser alcançados até o fim do ensino fundamental. São eles:
- autoconsciência;
- autoestima;
- autoconfiança;
- equilíbrio emocional;
- cuidados com saúde e desenvolvimento físico;
- atenção plena e capacidade de reflexão.
Para cada um desses pontos, as crianças e jovens devem desenvolver, orientados por seus professores e equipe pedagógica, artifícios que os ajudem a lidar. Devem receber orientações sobre:
- o que se trata e como se entende cada um desses pontos;
- qual sua importância para o desenvolvimento enquanto cidadãos e seres humanos;
- e, principalmente, quais caminhos podem levá-los para mais perto de serem considerados devidamente habilitados nessas competências.
Como já mencionado anteriormente, o autoconhecimento é uma busca contínua de uma vida. Desta forma, não é possível afirmar que, ao final do ensino fundamental ou médio, que seja, o estudante se encontra completamente desenvolvido neste sentido. A jornada é longa, e a proposta da BNCC é oferecer uma base bem estruturada para apoiá-la.
Veja a seguir como você pode fazer na sua instituição de ensino para ajudar seus alunos neste processo.
Como desenvolver esta competência da BNCC com os seus alunos
As principais áreas do conhecimento que mais contribuem com o desenvolvimento da competência de autoconhecimento e autocuidado da BNCC são: Ciências da Natureza, Linguagens e Ciências Humanas. Para cada uma delas existem diversas atividades e ações que podem ser promovidas em prol de estimular a competência de número 8 da BNCC. Veja alguns exemplos.
No âmbito das Ciências Humanas, um caminho pode ser promover debates sobre identidade e reconhecimento. Realizar atividades e rodas de conversa que façam os estudantes refletirem sobre contexto familiar, criação, cenário social e cultural em que vivem etc. Estimular este tipo de troca leva as crianças e jovens a se desafiarem, saírem da zona de conforto de onde vivem e entendam que papel realmente têm na sociedade.
Já quando falamos sobre a área de Linguagens, a arte pode ser uma importante aliada no processo de autoconhecimento dos estudantes. Incentivar a prática de atividades subjetivas, que aguçam a sensibilidade e a criatividade permite que essas crianças e jovens se exponham.
A exposição nos leva à vulnerabilidade, e através dela, somos capazes de descobrir muitas coisas sobre nós mesmos e buscar nosso equilíbrio emocional. Trazer esse tipo de prática e discussão desde os primeiros anos escolares terá um grande benefício no futuro dessas crianças, tenha certeza disso!
Nossa última dica fica no campo das Ciências da Natureza, que é onde mais falamos sobre o funcionamento dos nossos corpos. As crianças e jovens têm acesso a conhecimentos sobre o próprio corpo e como cuidar dele.
Isso pode ir desde o senso básico de higiene; passando pelo cuidado físico com a ingestão de nutrientes adequados para o desenvolvimento; pela prática de atividades físicas com o desenvolvimento de diferentes habilidades corporais; até a educação sexual para evitar situações de risco.
O que é saúde mental
Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), a definição de saúde mental passa por um estado de bem-estar em que uma pessoa se encontra. Para ser considerado esse estado, a pessoa deve ser “capaz de apreciar a vida, trabalhar e contribuir para o meio em que vive ao mesmo tempo em que administra suas próprias emoções”.
Parece simples, mas administrar as próprias emoções não é um exercício de fácil execução para todas as pessoas. Os seres humanos são, muitas vezes, racionais demais para se permitir sentir. A sociedade, de forma geral, não nos ensina que podemos sentir, precisamos sempre produzir, entregar e dar conta das nossas tarefas. Não temos tempo para sentir.
Pois bem, crescer em uma sociedade com essa visão de mundo prejudica muito a percepção das nossas crianças e jovens sobre saúde mental, autoconhecimento e autocuidado. Por isso é tão importante que as escolas sejam espaços seguros para que essa compreensão passe por transformações.
Saúde mental não é somente não possuir nenhuma doença ou enfermidade. Saúde mental é, sim, um estado de bem-estar que, devido à sua complexidade de definição, envolve uma série de fatores. O principal deles tem relação com os nossos próprios sentimentos e emoções e a forma como lidamos com eles.
Se para pessoas adultas, já com mais experiência de vida, é difícil administrar as emoções, façamos um exercício de imaginar como é isso para os nossos jovens! A pressão da sociedade é cada vez maior para que se adequem a uma ou outra norma social. Para que cursem uma faculdade; que tenham um bom emprego; que formem família etc.
São diversas cobranças que permeiam a nossa existência e que nos fazem construir dentro de nós algumas crenças limitantes. Ou seja, crescemos acreditando em determinadas verdades que limitam as nossas buscas. Até mesmo minam os nossos esforços por nos conhecermos melhor e, com base nisso, tomarmos conosco os devidos e necessários cuidados.
Como o autoconhecimento e autocuidado estão envolvidos nisso
É aqui que entram os conceitos de autoconhecimento e autocuidado. Autoconhecimento é uma jornada de uma vida, e todos nós estamos imersos nela, de um jeito ou de outro. Trata-se de conhecer a si próprio em sua mais profunda conexão consigo. Entender dentro de nós mesmos quais são nossos anseios, nossas motivações, o que nos faz sorrir, o que nos entristece, o que nos deixa com raiva etc.
Vale sinalizar que este é um processo normalmente — e altamente recomendável — acompanhado por profissionais especializados, como psicólogos ou demais terapeutas. O autoconhecimento é tão importante porque, identificando nossas fortalezas e fraquezas, somos capazes de promover o nosso autocuidado. Indo um pouco mais adiante, somente garantindo que estamos bem cuidados é que podemos direcionar nossa atenção para cuidar do outro. Aqui no nosso caso, dos nossos alunos.
Autocuidado, no entanto, não está compreendido somente no contexto de fazer dieta e atividades físicas para emagrecer. A perda de peso, por exemplo, pode, sim, ser um desejo pessoal. Porém, o reforço que se faz com relação ao conceito de autocuidado é de identificar as necessidades que estão por trás disso e, aí sim, buscar atividades e ações que as atendam.
Algumas práticas comumente associadas ao autocuidado são:
- a meditação;
- a leitura;
- a experiência de relaxamento em locais agradáveis
- a manutenção de rotinas de conversas com pessoas importantes;
- a conexão com a natureza;
- etc.
Aqui é fundamental destacar que não existem regras para o autocuidado: muitas vezes, o que funciona para uma pessoa pode não ser a melhor prática para outra. Ter consciência sobre isso é fundamental para não buscar um ideal que sequer se aproxima das suas necessidades e anseios.
Cuidar da saúde mental é tão importante quanto direcionar atenção para a saúde física. Muitas vezes isso pode passar despercebido, mas os números de doenças de estresse, ansiedade, depressão etc. nos mostram que é uma realidade latente na nossa sociedade.